A gente fala de independência financeira hoje como se fosse algo que já pensávamos desde sempre, né? Mas se você fizer uma retrospectiva nas suas ideias, nos seus pensamentos, vai ver que não é assim.
Toda criança sonha com alguma profissão, quando mais novo são profissões idealizadas como astronauta, ator, atleta, cowboy como nos filmes ou um grande explorador; na adolescência começa a pensar em profissões que tem aventura como piloto de avião, paraquedista, mergulhador; e já na juventude quando tem que escolher de fato no enem ou processo seletivo, começa a pensar em carreiras mais possíveis e rentáveis como técnico ou bacharel em engenharia, medicina, direito, docência, etc.
Durante o curso profissionalizante ou a graduação, sonha com a formatura, com o cotidiano profissional, as realizações, qual segmento da carreira, advogado civil, tributarista, penal?
Então é uma vida toda convergindo para isso, tudo bem que tem uma sociedade inteira nos cobrando com a pergunta "o que você quer ser quando crescer?", mas é a nossa cultura e a gente se desenvolve a partir da cultura. Só que a gente vive pensando nisso, porém chega uma hora que a gente não quer mais saber disso.
Parece que a nossa "barrinha da paciência", a gente já tentou de tudo, trocar de emprego, de segmento, de cidade e até de profissão, mas não adianta, aquele cotidiano do trabalho, com cobranças sem sentido, rivalidades, panelinhas, fofoca, tudo isso se somando às pressões da chefia, vai nos deixando desanimados, irritados; por vezes, adoecemos mesmo: burnout, ansiedade, estresse, depressão.
Quando eu mudei pra um "emprego dos sonbos", numa "cidade dos sonhos" e continuei com todos os incômodos foi que me deu o estalo. Na época, eu nem sabia que existia o termo FIRE, nem um movimento de pessoas que desejavam isso.
Muitas ideias, muitos projetos, mas que não conseguia botar nenhum em prática, nada era aprovado, me sentia sabotado e isolado do contexto da instituição.
Eu cheguei juntando dinheiro para dar entrada na minha casa própria porque afinal eu estava animado, queria minha casa e iria morar ali e trabalhar no mesmo lugar até me aposentar. Com um tempo eu comecei a jogar na loteria com muita frequência porque eu já não aguentava mais e sabia que se eu conseguisse pelo menos o prêmio base de 600 mil na quina e deixasse na poupança (na época eu não conhecia nada de investimento), depois de um tempo eu estaria "aposentado" e me livraria de ter que ir para aquele ambiente insalubre e tóxico.
Seguindo a probabilidade, eu não acertei, e quando eu verifiquei meu saldo da poupança para a entrada, vi que já tinha uma quantia considerável. Comecei a usar a calculadora do milhão para descobrir em quanto tempo eu estaria livre. O resultado foi desanimador, precisaria de mais 18 anos. Mas o tempo iria passar de qualquer forma e eu aceitei que demora mesmo. Comecei a perceber que era melhor então eu continuar alugando porque o aluguel era a metade da prestação de um muquifo e eu morava na beira da praia com lazer completo.
Para não ficar muito longo, eu resolvi dividir em dois.